quarta-feira, janeiro 22, 2025
Google search engine
InícioArtigosIniciativas do governo federal para reverter devastação do Cerrado são insuficientes

Iniciativas do governo federal para reverter devastação do Cerrado são insuficientes

Dia Nacional do Cerrado, celebrado em 11 de setembro, deveria ser um dia de celebração, mas pouco temos a comemorar. Mas precisamos reafirmar a importância desse bioma, de sua diversidade, de suas comunidades e o esforço que a sociedade civil, particularmente as entidades que atuam do bioma, têm feito para preservá-lo.

Vivemos momentos difíceis e  a situação continua extremamente triste.

crise climática tem agravado a situação nesse bioma de forma dramática. O desmatamento e as queimadas, que são grandes fatores de emissão de gases do efeito estufa, avançam no Cerrado. Como consequência, tivemos ondas de calor e períodos de seca inéditos até agora, e segundo os alertas que chegam dos órgãos especializados não estão previstos tempos melhores à frente.

Na terça-feira (10), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Flávio Dino declarou que o país vive uma “pandemia de incêndios florestais”.

São incêndios que atingem o Cerrado em diversos estados, são consequência da inoperância dos governantes e de ações criminosas daqueles que não querem o cerrado de pé.

Todas as iniciativas que o governo federal tem tomado até agora têm sido insuficientes para reverter o quadro de devastação do Cerrado. O desmatamento cai na Amazôniamas não cai no Cerrado, e nos coloca diante de um imenso problema. O berço das águas tem sido atacado, em sua maioria, por ações amparadas pela legislação. Um desmatamento legal, embora seja imoral colocar a produção de água em risco iminente. Não existem ainda políticas públicas consistentes, robustas, para salvar o nosso bioma, protegendo a fauna, flora e suas comunidades. 

Não podemos mais aceitar que a política de enfrentamento dos graves problemas do Cerrado seja feita apenas na esfera federal. Não é uma questão só para o Ministério do Meio Ambiente. A questão do Cerrado tem a ver com o modelo predatório de desenvolvimento não sustentável que as elites brasileiras impuseram ao país, com imensos impactos sobre seus biomas e suas comunidades.

Hoje, o modelo de agronegócio predador, com suas monoculturas que devastam o Cerrado em busca de lucro, é o grande inimigo que avança desconsiderando a importância da vegetação do bioma para o ciclo da água, e os impactos cruéis na fauna, flora, no solo e nas comunidades. 

Como colocado na diretriz programática do presidente Lula, o desmatamento zero é uma exigência central em todos os biomas. E da mesma forma, é imperativo a busca por  uma política de desenvolvimento sustentável que proteja a natureza,  fundamentalmente os mananciais, as nascentes e os rios. Considerando a água como valor fundamental para a vida.

Política de ação estratégica

É fundamental  uma  política de ação estratégica, e que  os órgãos que atuam na proteção ambiental, o Ibama, o ICMbio, o Ministério do Meio Ambiente, bem como a Polícia Federal, entre outros, sejam dotados de orçamento e tenham seus efetivos reforçados.

É urgente fortalecer as parcerias com  as organizações da sociedade civil de forma que seja possível desenvolver e implementar  modelos de desenvolvimento que preservem e recuperem o Cerrado.

:: Cerrado: Semeando resiliência e esperança em tempos de destruição ::

Ainda prevalece a visão de que o Cerrado não é um patrimônio do povo brasileiro, já que ele não foi reconhecido como tal na Constituição de 1988. O Projeto de Emenda Constitucional (PEC) 504/2010, que busca reparar esse absurdo, há mais de dez anos está para ser votado no Congresso Nacional, mas não avança. Parece que a maioria do parlamento brasileiro não entende a relevância do bioma, ou quer mesmo que o Cerrado seja totalmente substituído pelo agronegócio.

Este é um desafio fundamental que está a cargo do Congresso Nacional: aprovar o projeto de lei que transforma o Cerrado e a Caatinga em patrimônio da União e também impedir a aprovação de leis que prejudicam o bioma e aumentam o desmatamento. É preciso dar um freio na ação predatória de projetos irresponsáveis que surgem no Congresso Nacional.

O começo dessa reversão pode começar nas próximas eleições municipais, onde todos nós como sociedade, poderemos apoiar e eleger candidatos a prefeito e a vereador comprometidos com o Cerrado, com sua preservação e com a mudança do modelo de desenvolvimento nesse bioma.

Ameaças no DF

O Cerrado na capital federal está, hoje, sob  ataque de políticas públicas promovidas pelo GDF. As revisões Plano Diretor de Ordenamento Territorial, o PDOT, e as alterações feitas no Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília, o PPCUB, trazem forte  incentivo à especulação imobiliária desconsiderando a sensibilidade do território e a preservação do que resta do Cerrado, colocando em risco as nossas nascentes.

Precisamos de um sério combate ao crime ambiental, ao parcelamento irregular e à grilagem de terras no Distrito Federal. Da mesma forma, projetos de governo que podem trazer perdas irreparáveis às áreas de recarga de aquífero, comprometendo a disponibilidade hídrica em tempos de extremos climáticos, precisam ser combatidos e denunciados.

:: Cerrado em chamas: número de incêndios no bioma já ultrapassa total de focos registrados em 2023 ::

O Fórum de Defesa das Águas do Distrito Federal, juntamente com suas entidades  e  parceiros, não vai parar de mobilizar e reivindicar políticas públicas estratégicas, consistentes e transversais para o Bioma Cerrado. 

Reafirmamos nosso compromisso com as lutas de todas a regiões que enfrentam o parcelamento criminoso do solo, o projeto de rodovia às margens da estação ecológica de Águas Emendadas, a poluição do Rio Melchior, os projetos habitacionais em áreas sensíveis comprometendo as nascentes, as áreas de proteção de mananciais, e seguiremos cobrando de todos os órgãos competentes ações eficientes e estratégicas para mudar esse quadro.

Pedro Ivo Batista é presidente da Associação Alternativa Terrazul, conselheiro do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e membro da coordenação do Fórum de Defesa das Águas do DF.

Lúcia Mendes é presidente da Associação Preserva Serrinha e membro da coordenação do Fórum de Defesa das Águas do DF.

RELATED ARTICLES
- Advertisment -
Google search engine

Most Popular

Recent Comments